Gostei muito da forma como o autor, sendo homem, desenvolveu as personagens femininas. Imaginei-as como mulheres, de verdade, me esquecendo totalmente de que o livro foi escrito por um homem, acredito ter ficado bem diferenciado das falas dos personagens masculinos. Lendo a narrativa da personagem principal, imaginei-a realmente como uma moça simples, tão inocente, quase infantil em alguns momentos.

No início da trama, o autor deixa bem marcada a forma como a mulher era tratada na época, com relação aos acordos matrimoniais, feitos à revelia da pobre noiva. Carmela vê-se direcionada para um destino que pode ser diferente do que as irmãs tiveram: ao partir com Marcello e Ludovica para auxiliar na confecção de tintas, tem a oportunidade de conhecer outros lugares, os aspectos da arte e de finalmente encontrar aquele a quem amará para sempre. Contudo, situações de preconceito também acontecem, mostrando a inferiorização de quem não tinha posses. Por outro lado, Marcello e Ludovica, em uma atitude muito à frente do tempo da narrativa, estão sempre lembrando à jovem para que jamais abaixe a cabeça, para que sinta orgulho pelo que faz e para que seja forte. Sobre os pais de Lorenzo, afirmo que são dois personagens extremamente cativantes, responsáveis por passagens muito bonitas do livro, bem como algumas dramáticas, de muita tensão, que me emocionaram sinceramente.

Demonstrando ter realizado intensa pesquisa, o autor desvela as técnicas utilizadas na época para afrescos, enquanto Carmela e Lorenzo começam a viver um amor intenso e marcado por inveja e despeito de outros que julgam a união totalmente inadequada.

É muito bonito ver o quanto os dois protagonistas precisam lutar, na tentativa de ficarem juntos, apesar de todas as adversidades, inclusive do passado de Lorenzo, que envolve um grande mistério, capaz de afastar Carmela para sempre.

“- Meu amor, por favor, me responda... Não me faça esperar por mais um dia inteiro.

Finalmente descobri o que sinto por você!

Os primeiros raios de sol entravam pelas portas da capela. Ele não estava lá, de forma que eu deveria esperar por um dia inteiro para falar coisas que uma menina não deveria falar naqueles tempos. Nada na minha vida era muito convencional, desde que o velho Marcello surgira na sapataria de meu pai naquele início de primavera, em Florença. Seria para lá que eu voltaria em pouco tempo e meus instintos não me deixavam perder um segundo sequer, eu deveria atender aos meus anseios, antes que fosse tarde demais.”